sábado, 1 de junho de 2013

FEITO DE BARRO

Na folha inata
O poeta retrata
A sua solidão;
Caneta à mão
E um olhar profundo
Olhando o mundo
De vida renhida
Como se olhasse
Uma grande ferida!

Olhando o mundo,
O mundo bizarro,
Ele expressa a dor
De ser feito de barro.
Ah se o poeta
Fosse feito de cobre!
Seria mais rico
Ou seria mais pobre?
Seria condutor
Do mais puro amor?
Ou seria um entulho
Do mais puro orgulho?

Além do mais
Teria mais paz?...
Deus sabe o que faz
O poeta é de barro
E não volte atrás.
De um barro tão belo
Resistente ao calor;
De um barro singelo
Nas mãos do Senhor!

Feliz do poeta
Que é feito de barro!
Humilde e pequeno
Como um simples jarro;
Mas que dentro dele
Traz toda beleza,
Traz todo esplendor...
Pois traz a essência
De seu Criador!

ANTONIO COSTTA





QUANTO VALE A AREIA DO RIO?

Quanto vale a areia do rio
que a natureza juntou?
Anos e anos, a fio,
tesouro que ela guardou.

Quanto vale a areia do rio
onde o vento deita e rola?
Quanto vale a areia do campo
onde eu brincava de bola?

Quanto vale, queremos saber,
a areia do Rio Paraíba?
Que estão, todo dia, a vender,
agredindo o leito, a vida!

Quanto vale a areia do rio?
Entregue em troca de nada?
Ou vendida a preço d'ouro,
tesouro da terra amada!

Por homens gananciosos
que fazem negociata.
Quanto vale a areia do rio,
do rio que se fere e mata?!

ANTONIO COSTTA

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O GRITO DA SECA

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O GRITO DA SECA

Há um grito gemendo
Ecoando no ar
E não precisa se ouvir
Para acreditar.

Que grito é esse
Que vem dos sertões?
Rasgando os pulmões
Quem está a gritar?

Já deu no jornal
Da capital federal,
Já passou no birô
Do governador.

Esse grito que ecoa
Tão forte agora,
Ah! Se fosse daqueles
Que muda a história!

É um grito, não ouças!
É um grito, não sintas;
São crianças famintas
De algum lugar!...

Os que pensam assim
É difícil entender
Porque pedem o voto
Pra nos defender.

Os homens que têm
O poder de mudar
Por que querem que o grito
Continue a gritar?

É difícil mudar?
Porém duvidamos;
E se fossem seus filhos
Que estivessem gritando?

Há um grito de fome,
Há um grito de sede,
Há um grito de horror,
De morte e de medo!

É o grito da seca
Que vem dos sertões,
Atrás de guarida,
Rasgando os pulmões!

O Nordeste que é terra
De um povo forte,
Como pode vencer
Essa sentença de morte?

Há familias buscando
Socorro no mato;
Em vez de feijão
Estão comendo cacto!

Há criança andando
Quilômetros na estrada,
Só para buscar
Uma lata de água!

Não! O Nordeste não é
Um filho viril
Da nossa pátria,
Do nosso Brasil!

Basta uma ação,
Uma ação de governo,
Pra fazer paraíso
O que hoje é ermo.

Aonde só tem
Crianças com fome,
O gado caindo
E o povo sumindo!

Deixando o sertão
Pra grande cidade,
Buscando comida
E felicidade.

Ai, meu Deus!
Como é triste se ouvir
Um grito que quer
Nosso peito partir.

Um grito que busca
Uma grande esperança,
E que sai tão fraquinho
De uma criança...

O céu escurece...
A chuva aparece...
Ajude, meu Deus,
O pobre Nordeste!

ANTONIO COSTTA